Doces & Caruru

Aqui na Bahia é tradição. E uma daquelas deliciosas!

Dia de Cosme e Damião tem que ter caruru (e completão: vatapá, feijão fradinho, feijão preto, arroz branco, xinxim de galinha, farofa de azeite, acarajé, abará, pipoca, amendoim, rapadura, abóbora, milho branco, banana-da-terra frita, lasquinhas de coco seco, rodelas de ovo cozido, cubinhos de cana, de batata-doce, de inhame e o caruru, tudo num prato só, eita!!!) e doces distribuídos para as crianças.

Quando chega o mês de setembro, todo mundo já começa a contar os convites recebidos para os carurus. Haja barriga! E a farra começa, para muitos, desde o preparo, quando reune-se a família e os amigos para cortar o quiabo, triturar o camarão seco, a castanha, o amendoim, ralar, moer, tratar, catar os outros ingredientes, enfim todos os processos para o mega banquete. E o trabalho é grande, proporcional a quantidade de comida.

Tem festas grandes. Tem promessas. Tem almoços só para familiares. Tem de tudo.

O caruru oferecido pelo devoto dos santos é iniciado com sete meninos(*) em círculo, os privilegiados que degustarão antes de todos os demais convidados que, ao redor, entoam as músicas de saudação aos santos enquanto aguardam, babando, a sua vez de saborear as iguarias. É um ritual animado. Entre os convidados, os que crêem e os que apenas comem.

E quem são os homenageados? Acta e Passio são gêmeos originários de uma nobre família cristã da Arábia do século III. Estudaram Medicina na Síria e exerciam a profissão por amor, sem cobrar nada em troca dos seus serviços médicos, queriam mesmo ajudar e converter os pagãos para a fé cristã. Foram perseguidos e degolados pelo imperador Diocleciano, após acusações de feitiçaria por causa de suas curas e milagres. Atendiam principalmente as crianças, inclusive com materialização pós morte para ajudá-las, daí a vinculação imediata com os infantes, tornando-se seus protetores e padroeiros.

E lá vou para mais um caruru. Hum... Adoro!!!
Quando o sol baixar vou correr minha sacolinha pelas casas dos vizinhos para encher de doces também, rs... Brincadeirinha, mas só porque não sou fã de doces!

"São Cosme mandou fazer sua camisinha azul
No dia da festa dele, São Cosme quer caruru...
Oh, vadeia Cosme, vadeia!..."

Estes gêmeos são santos muito queridos aqui na Bahia.
Viva São Cosme e São Damião!!!

(*) A referência aos 'sete meninos', tradicionalmente catados nos arredores para esta participação no evento (e como ficam eufóricos!), advém do candomblé. Nessa religião Cosme e Damião são filhos gêmeos de Xangô com Iansã, e os outros cinco (Dou, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi) são seus irmãos.