Daniele Moreira Alves

Intensa. Indomável. Indelével. Ah, e Dani para os íntimos!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CRÔNICA - O casamento

Por mais que se negue, toda mulher sonha em "casar como manda o figurino", vestidão, véu e grinalda, cortejo rumo ao altar, pais chorando emocionados, igreja cheia de convidados, a hora de jogar o buquê, ..., o ritual tradicional para construir um lar e constituir uma família feliz.

Eu não engrossava o coro do "sonho da minha vida", mas já havia pensado nisso algumas vezes. De repente, após a decisão tomada, do pedido aceito e de sonhar diariamente com o brilho daquelas alianças lindas (douradas e enormes) após escolhê-las como a jóia mais preciosa de todos os tempos, me vi completamente envolvida, absorta, obcecada. Impressionante como a vontade de viver aquela realidade aflorou e como os sentimentos se intensificaram.

Dos planos para a ação, tudo tinha que ser e estar per-fei-to! Escolhi pessoalmente cada detalhe, fui a feiras e eventos; esbocei convite; preparei o set list; fiz todas as listas (convidados, chá bar, chá de cozinha, enxoval, presentes); experimentei cardápios variados; conversei tanto com os fornecedores do buffet, das fotos e da filmagem que já estava me sentindo parte das equipes; providenciei toda a documentação; analisei cada item da decoração; decidi a roupa do pajem e da daminha; fiz, refiz e revisei o orçamento; vi e revi o check list inúmeras vezes; montei o roteiro, cotei a viagem e arrumei as malas para a lua-de-mel; e devo ter feito outras coisas que não estou lembrando agora; me empenhei para que fosse "o" casamento, tudo tinha que ser e estar per-fei-to!

Perdi 06 kilos na última semana dos preparativos só com o corre-corre e com a preocupação. Meu vestido era ajustado a cada prova, nem precisei de regime para surgir magra e elegante sobre o tapete vermelho.

E no grande dia, quase corri para os seus braços ao ver o noivo no altar. Por mais que tivesse imaginado tanto aquele momento não o tinha desenhado tão lindo... Nunca havia visto aquele brilho no olhar, aquele sorriso estampado, aquela vontade de casar quase palpável... Ao me ver, pôs a mão de direita sobre o coração e piscou para mim, dois gestos que deixaram evidentes para todos a nossa cumplicidade, amor e intimidade... Quis correr, mais uma vez, direto para os seus braços; me contive.

Excitação, nervosismo, aflição, agonia, ... Ao ouvir a Marcha Nupcial fui tomada por uma mistura de sensações que ao mesmo tempo me limitavam e me impeliam... Tudo precisa acontecer naquele instante senão eu morreria... Perdi o domínio sobre o meu pensamento, sobre os meus sentimentos e sobre o meu corpo e me vi paralisada ao vê-la entrando, linda e com toda a pompa e circunstância, no lugar que deveria ser meu... Ao me ver, pôs a mão de direita sobre o coração e piscou para mim, dois gestos que deixaram evidentes para todos a nossa cumplicidade, amor e intimidade... Quis correr dali e morrer; me contive.

Assim que o padre iniciou a liturgia não tardou para que a imensa dor que eu sentia percorresse todo o meu corpo, tornou-se física, devastou-me e emergiu como uma explosão de lágrimas... A primeira, que tentei segurar junto a respiração e a dignidade, se esvaiu e arrastou a torrente...

Sorri, trêmula e emocionada, ao ouvir meu nome ecoando na cerimônia como "o cupido de meus melhores amigos" na historinha contada como contextualização (que eu escrevi).

Não acreditava quando ouvia alguém dizer que estava triste e feliz ao mesmo tempo... Senti na pele como isso é real! Ali estava eu, duplamente madrinha do casamento de meus melhores amigos: o ex-namorado que nunca esqueci (mas que nunca assumi) com a minha prima-irmã que o consolou quando eu o abandonei...